O Grupo de Trabalho Nacional História e Patrimônio Cultural, da ANPUH Brasil, vem somar-se à
manifestação feita pela própria associação e às manifestações de outras entidades e repudia
iniciativas de promoção de comemorações do 31 de março que simultaneamente neguem o
golpe militar de 1964 e o caráter ditatorial do regime que se instalou a partir dele.
Embora, no senso comum, comemorar usualmente indique o ato de promover uma celebração
festiva, não ignoramos, é certo, que a etimologia da palavra tem sentido mais amplo: remete a
trazer à memória, a fazer lembrar. Disso, aliás, se ocupam diuturnamente os profissionais de
História, que também sabem quão complexas se fazem as operações da memória, individual
ou coletivamente realizadas. Por isso, historiadores não apenas buscam fazer lembrar, mas
refletir sobre os sentidos das comemorações construídos na seleção do que se quer lembrar,
como, quando, por quem, para quê; se esforçam ainda em pensar sobre silenciamentos e
apagamentos. Passados presentes e/ou que se objetivam negar marcam o acirramento
memorialístico que estamos vivendo. Nas práticas sociais contemporâneas/cotidianas,
diferentes memórias, de distintos grupos sociais, são postas em confronto e em disputa, e
aqueles que se voltam de modo mais detido para os temas do patrimônio cultural estão
igualmente atentos às formas como as ações de patrimonialização interagem com esses
cenários de conflito. A compreensão dessa complexidade não nos impede, porém, de pautar
nosso trabalho por práticas que contribuam para a construção de uma sociedade fundada no
diálogo entre sujeitos vistos como iguais em direitos, e no respeito à pluralidade de
concepções e experiências – aí incluídas as experiências traumáticas.
Negar retoricamente um passado de autoritarismo e de violência estatal não o elimina, muito
menos impede que experiências similares continuem a proliferar. Cabe confrontar o
negacionismo. Complementarmente, não pode ser tolerada a celebração da barbárie com
base em mistificações que constroem um Outro como não cidadão, encarnação do Mal contra
o cidadão “de bem”, com isso abrindo-se mais e mais brechas para o arbítrio, a tortura, o
extermínio. Juntamo-nos aos demais colegas historiadores, bem como a todos aqueles
empenhados na construção de uma sociedade justa, plural e de bases igualitárias, sensível às
diferenças culturais, e nos posicionamos firmemente em defesa de uma História ética e
compromissada com a democracia.
GT Nacional de História e Patrimônio Cultural (ANPUH Brasil), 30/03/2019
E-mail: gthistoriaepatrimonio@gmail.com
Comentarios